Porquê viajar com as crianças?

As viagens salvaram-me a vida!

avc

Este post foi tirado a ferros. Primeiro, porque é um assunto no qual me sinto à vontade para falar, mas apenas quando estou à frente de alguém que pode ver na minha cara que não há raiva, nem nenhum tipo de lamechice. AVC é uma palavra que dá muito medo.

Depois, é tirado a ferros porque eu não gosto de falar sobre isto, de livre e espontânea vontade. Se têm perguntas, eu respondo. Mas de outra forma, é um assunto pouquíssimo falado.

Porque nos sentimos tão culpados por estar doentes?

Este blog foi pensado como uma espécie de álbum de viagens para uma criança que tinha 1 ano e que um dia mais tarde, poderia ver todas as viagens que tinha feito quando a sua mãe era viva. Quando quis deixar textos e fotos ao meu filho, dei-me conta que as recordações mais valiosas, mais importantes e mais engraçadas, se tinham passado em viagem, e que preenchiam a maior parte dos posts.

Volto a dizer: esta é uma história muito feliz!! Muito feliz mesmo! Espero com ela inspirar outras mães a fazer o mesmo. Outras mães que nos enviam mensagens a contar os seus problemas de saúde e como isso as impede de viajar.

É a história de como as viagens salvaram a minha vida 🙂 (resumidamente)

Viemos grávidos de uma longa viagem pela Ásia. A gravidez teve alguns percalços mas o Andrezinho nasceu bem e saudável. Tirei uma licença de maternidade alargada, estava em casa e tudo parecia estar a correr bem,

Eu estava cansada. Horrores de cansada, mas achava que poderia ser normal. O bebé mamava de 2 horas em 2 horas, de dia e de noite.

Um dia quando o A tinha 7 meses acordou a meio da noite, como normal, levantei, mas o meu corpo não me obedecia. O quarto andava à roda e mal me aguentava de pé. Pensei: ” Estou mesmo cansada, devo precisar de vitaminas…”. De manhã o mesmo cenário, mas agora com vómitos e tudo andava á roda. Fui a um hospital particular e fui tratada para uma gastroenterite (de manhã e depois à noite, quando lá voltei ainda pior). Continuei mal e no dia seguinte fui ao Hospital público da minha cidade. Pelo meu próprio pé.

Alguns exames.

Quando dei por mim, estava a dar entrada numa sala com uma placa que dizia AVC cuidados intensivos. “Vais ter de ficar aqui um tempo“, ouvi.

-Como assim um tempo?? quem vai dar de mamar ao bebé? quem fica com ele todo dia? Como é que isto foi acontecer? Por favor quero ir para casa.

Mas esta foi a primeira de muitas noites em hospitais.

O AVC ocorreu devido a um Angioma Cavernoso, um tumor benigno, num local muito pouco simpático. Não tinha equilíbrio, a mão esquerda não me obedecia como antes, o cansaço deitava-me por terra a cada 2 horas.

Esta história é longa, e dava um livro 🙂 aqui neste post só quero dizer que a minha guerra dura há 3 anos e meio. Estive muitos meses numa cama, sem poder cuidar do meu filho, sem conseguir andar ou sequer ler. As minhas amigas e alguns familiares revezaram-se para nunca me deixar sozinha, até ao dia que um médico (Pr. Dr. António Vilarinho), aceitou tirar “isto” do meu cérebro.

O risco era enorme, o cenário de uma possível paralisia total estava na mesa de negociações. E a decisão estava na minha mão.

Eu escolhi viver. Durante os meses de ponderação, decisão e estadias nos hospitais, houve um assunto que me fez companhia a todas as horas: as viagens. Ver fotos, fazer planos (muitos deles irrealistas), ouvia as histórias de quem tinha ido de férias, amigos traziam-me revistas de viagens, etc.

Planear viagens ocupou os meus dias completamente e nunca pus a hipótese de não as fazer, pelo meu próprio pé. As viagens nunca deixaram o negativismo, o pânico e o medo tomar conta da mim.

As viagens foram o alento. Eu tenho muitos planos. O meu mini viajante não podia ficar a meio do que eu tinha imaginado para ele.

O blog existe agora não só para deixar uma recordação ao André, mas também para continuar a rechear os nossos pensamentos de imagens boas, e quem sabe ainda, ajudamos alguém no caminho. Formamos um grupo de pais de mini-viajantes, que partilham das mesmas ideias e partilhamos as experiências.

Com todas as dificuldades que ainda temos, as viagens vão continuar.  Foram elas que me salvaram, lembram-se?

Bons Passeios!

A mãe Duarte

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