“O Oriente não grita. O Oriente sussurra” M. Medeiros.
Aterrámos no Camboja e passámos por uma experiência muito má em Phnom Penh (já contámos aqui O dia em que quase trouxe um bebé do Camboja), sua capital. Mas a viagem segue, mais ou menos, o seu rumo e leva-nos até Siem Reap num autocarro durante 9 horas, sempre aos saltos com os buracos nas estradas.
Quando se pensa no Camboja, pensa-se logo na guerra que quase matou toda a população, há meia dúzia de dias. Só nos anos 90 o país começou a sair do meio dos escombros e hoje tenta viver da pesca, das plantações de arroz e do turismo.
Durante a viagem de autocarro passamos por vilarejos e cabanas sujas, mas em vez de um povo sofrido e antipático, encontramos pessoas cordiais e sempre a sorrir. A pobreza para eles não é o inferno. Estas pessoas sabem muito bem como era o inferno.
A economia hoje começa a ficar forte e muito graças às fantásticas ruinas de Angkor Wat, em Siem Reap, que os franceses tentam recuperar.
É muito complicado colocar em palavras a mística deste lugar.
Acordámos de manhã cedo, ainda com o corpo moído da longa viagem de 321km. Pegámos nas bicicletas do hostel (the siem reap hostel) fomos em busca do cenário do filme Tomb Raider.
Pedalámos no meio de uma floresta densa, mas com uma estrada boa até chegarmos ao Ta Prohm, um dos templos principais de Angkor.
Este conjunto de templos, Angkor Wat (a maior construção religiosa do Mundo) foi construído no séc. IX, numa zona de pântano e é por isso que está literalmente a ser engolido pela Natureza e nos coloca no nosso lugar de seres humanos inferiores. A Natureza está a atacar os edifícios e a dizer na nossa cara: Who’s the boss?!
Andámos o dia inteiro a percorrer os muitos templos até que no meio deste cenário de filme sai a pergunta: Queres casar comigo?
Sem lágrimas, nem desmaios, vamos embora comemorar!
Siem Reap tem um centro muito animado com muitos restaurantes, bares e lojas abertas durante a noite.
Se há pessoas que não se lembram o que jantaram ontem. Nós lembramos bem o que jantámos no dia do pedido de casamento.
Quem vai ao Camboja não fica indiferente às cobras. A Naja, cobra de 7 cabeças, está representada por todo lado, muitas vezes junto aos deuses, numa simbologia de imortalidade, energia e força.
Há cobras. As pessoas convivem com cobras. Comem cobra de variadíssimas maneiras. Nós detestamos cobras. É um animal que dá medo e aflição. Enfim.
Mas temos muita fome e cheira muito bem mesmo. As esplanadas estão cheias e há filas de espera. Fazemos a tal conta: o restaurante que tem mais fila é o melhor, o que não tem fila é o pior, e o do meio é o que vamos! Funciona sempre.
Olhamos para as mesas dos vizinhos. Parece que a especialidade é um género de fondue, que há em todas as mesas. Todos parecem satisfeitos.
Vem o empregado. Queremos aquilo, dizemos a apontar para as outras mesas. O Sr., a sorrir muito e a acenar a cabeça para cima e para baixo, traz o menu em inglês para se certificar do que queremos.
Os cambojanos são mesmo assim: delicados e simpáticos. Usam um tom de voz muito mais baixo do que o normal, e isto é muito bom para os nossos ouvidos cheios de ruído do dia a dia stressante. Está um calor pavoroso e estas pessoas nunca se queixam, não limpam a cara do suor e estão sempre em paz. Como se o ar fresco viesse de dentro.
E o que queremos é isto:
Bons Passeios!