As viagens para mim são recomeços de vida. Talvez porque as datas que mais marcam os anos, eu não lhes dou muita importância: aniversários, passagens do ano, chegada do verão, etc. Normalmente estou a trabalhar e não passam de dias iguais aos outros mas come-se o dobro dos doces.
As férias não.
Não tenho depressão pós-férias, tenho uma sensação de reinício. Apetece-me mudar a disposição dos móveis, arranjar um novo espaço para dar destaque a uma lembrança da viagem. Apetece-me ser uma pessoa melhor. Apetece-me escrever uma lista de objetivos para o próximo ano. Apetece-me arrumar gavetas e doar roupa.
Voltámos de viagem ontem e eu já estou em atividade. Não tenho sono, estou cheia de ideias. Acordei às 06:30 por causa do jet-lag e a primeira coisa que penso em fazer é, lavar a roupa que está na bagagem!
No caminho reparo numa caixa de bombons grande, usada como caixa de lápis de colorir do pequeno viajante toda espalhada no chão, e o que me vem é cabeça é: “Quantos lápis de colorir precisa uma criança de 3 anos?!”
Voltámos há 12h do Sri Lanka, e ainda está muito presente em mim o seu modo de vida, as suas dificuldades e aquilo a que dão importância. É para isto que nós viajamos: para sentir que o Mundo pode tornar-nos pessoas melhores. A empatia pelo próximo, ganha-se. DAR, sem esperar nada em troca é um ato de amor e é muito rico quem o faz, não obstante o dinheiro que possa ter na sua conta bancária. Dar 2 dedos de conversa, dar um sorriso a quem trabalha arduamente, dar uma pequena gorgeta, dar um presente mesmo que já usado, dar atenção a quem a pede, DAR.
O meu filho tem uma dificuldade enorme em partilhar. Sofre mesmo. E dar os brinquedos que tinha recebido nas companhias aéreas, foi uma tarefa extenuante para todos. Mas após ver os saltos de felicidade da menina que os recebeu, já queria dar tudo e mais a roupa do corpo!
Em vez de me atirar à tarefa da lavandaria, pego na caixa de lápis e coloco tudo em cima da minha secretária. Que exagero…. Nem sei como vieram parar tantos lápis, ceras e canetas cá a casa. Só me lembro de comprar uma caixa!
Assim somos todos nós na vida, rodeamo-nos de imensas coisas que não precisamos, a pensar que nos protegem como uma fortaleza de todos os medos e males do mundo. E é o que passamos inevitavelmente às crianças.
Depois fazemos uma viagem a um local pobre, falamos com as pessoas, vivemos um bocadinho a sua vida e levamos uma chapada de realidade: as tuas roupas boas, aqui não servem de nada, vais acabar todo sujo igualmente. O teus sapatos novos, ficam como todos os outros: fora das casas. O teu ar arrogante não serve para nada, porque só conhecem o conceito de humildade. E apenas os sorrisos e a boa atitude vai levar-te a ter uma boa experiência, enriquecedora, e que deixa marca na tua personalidade.
Vais voltar melhor do que foste. Sem dúvida.
PS: os lápis deram 8 pacotinhos e vão servir para outra viagem! levar pequenos presentes é já um hábito. Bonés de Portugal, balões, lápis, cadernos, roupa que já deixou de se usar ou de servir, não ocupa quase espaço e vai fazer o dia de alguém muito melhor. Fica a dica!
A mãe Duarte
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