Há quem saiba tirar boas fotografias, esperar pela luz certa para disparar, andar com 5 máquinas fotográficas XPTO na mochila, e ter imagens maravilhosas. Nós adoramos ver fotos fantásticas, mas não conseguimos ter a disciplina necessária para conseguir tirar fotos decentes. Somos aqueles que aproveitam o momento, e não são raras as vezes, em que, não há uma fotografia para provar que tivemos num lugar. Ou num Natal. Ou num aniversário.
No dia do casamento dispensámos o fotografo passado 1 hora. Até hoje o rapaz ainda está incrédulo como ganhou o dia tão rápido. Estes somos nós.
A coisa melhorou bastante, quando o pequeno viajante nasceu. É verdade. Mas, foi aqui neste blogue, nascido da vontade de deixar um registo ao Andrezinho, dos seus passeios desde que nasceu, que as nossas fotografias passaram a ser um problema… Ou porque não existem ou porque são tiradas na pressa de aproveitar o momento e, não saem como deveriam.
Por isso adoramos histórias!
E essas, escrevemos. Seja pelo facto de conterem imensos pormenores, ou porque, não são estáticas, as histórias têm um valor acrescentado.
Fiquem com esta:
Em 2013 fomos um mês para a Ásia com intuito de conhecer um pouco do Cambodja e do Vietname, e aproveitar a proximidade para regressar a Bali, Indonésia, que adoramos.
Estávamos em Bali, num alojamento na praia de Balangan mas, deslocávamos diariamente até Kuta, uma zona altamente turística para a mãe Duarte fazer aulas de surf.
Sempre na mesma escola. Sempre com o mesmo vendedor. Os nossos pertences ficavam numa mochila pendurados numa árvore, num ramo alto. O vendedor ia olhando pelas mochilas dos clientes.
Sim. Estão a adivinhar! A carteira foi roubada de dentro da mochila. A carteira tinha 1 milhão de rupias (cerca de 70€) que, dava para todas as refeições da semana, mais a gasolina da mota, e equivale a metade de um ordenado médio mensal local. Com o dinheiro foi também o cartão multibanco.
Não costumamos ter tanto dinheiro connosco. Nem cartões. Mas, tínhamos levantado no caminho, não quisemos voltar para trás, blá, blá.
Aborrecidos, decidimos voltar ao bungalow para telefonar para o banco e cancelar o cartão.
Aborrecidos, mas positivos! Decidimos aproveitar uns trocos que andavam soltos na mochila para beber uma bebida no caminho. Tínhamos o depósito da mota cheio, e vontade de ver o pôr do sol em Jimbaran. Bora lá! É de caminho! com a diferença no fuso horário, o banco ainda está bastante tempo aberto em Portugal.
Nesta praia há imensos restaurantes e pessoas a tentar angariar clientes. Não temos paciência para isso. Vamos ao primeiro, só queremos uma cerveja. O empregado, admirado com a facilidade com que tinha arranjado estes dois clientes às 17 horas, meteu conversa.
Os Indonésios querem sempre saber de onde vêm as pessoas. “Ah Portugal!! Sim! Cristiano Ronaldo!“. O Senhor ficou à conversa connosco pois éramos os únicos clientes e, entre o Mourinho e o Cristiano Ronaldo, contámos que tínhamos sido roubados.
O homem ficou abismado. Pediu desculpa pelo facto umas mil vezes, e disse que tinha muita pena que os ladrões não percebessem como isso prejudicava o turismo e por conseguinte o seu restaurante. Perguntou se queríamos jantar. “Pois… não…desculpe. Não temos dinheiro, estamos de caminho para Balangan“.
Tínhamos algum dinheiro. Pouco. Dava apenas para umas cervejas.
O simpático Balinês, disse: “Não tem problema! Vão comer! Não quero que vão daqui a pensar mal dos Indonésios. Faço questão! Se gostarem, voltam cá amanhã“
Como dizer que não a esta oferta? Comovidos, aceitámos. Venha de lá a travessa de marisco!
Os Indonésios são mesmo assim. Um povo que já, por várias vezes, nos deu uma verdadeira lição de bondade e civismo.
Nunca sentimos pressão para regressar. Voltámos lá, várias vezes, porque realmente nos sentimos bem acolhidos. Fomos tratados pelo nome e houve sempre um sorriso sincero desde o primeiro minuto.
Por mais anos que passem, recordamos este Senhor muitas vezes. Aquele pôr do sol fantástico. Aquela mesa cheia de comida. Aquela atitude tão digna.
Bons passeios!