“Eu gostava de levar a miúda de férias, mas a minha mulher não quer…”.
“Eu queria muito ir de férias, mas o meu marido tem medo… e depois eu fico também receosa…”.
Quem se revê nesta conversa?
Afinal quem não quer? Ou será que querem os dois, e só têm receio?
Aqui não se trata de um amor perfeito, em que uma metade não pode viver sem viajar, e a outra detesta deixar o seu sofá. Trata-se de casais viajantes, que de repente se vêm enraizados à sua casa, e não sabem sequer explicar porquê. Jogam um ténis de desculpas, e o tempo passa.
“Impossible is nothing” , já dizia o anúncio da Adidas!
Não sabemos qual dos dois está a ser mais sincero, mas partindo do princípio que ambos querem experimentar levar o filho para umas férias, fora da sua zona de conforto. Leiam isto.
Vão ficar convencidos, de que vale a pena, de que é especial, e que todos nós somos capazes!
Não vai ser uma viagem igual à que fizeram antes de ter filhos. Isso é certo! A parte boa, é que essa já foi, e agora vem só novidade. Vai ser mais exigente, vão ter de estar alerta todo o tempo. Têm de planear melhor. E vão, provavelmente, ter de avançar, quando queriam parar, e parar, quando talvez quisessem avançar… Também vão descobrir que têm os níveis de paciência, iguais a um monge budista.
Mas há o retorno. E esse retorno, é muito bom.
É como a parentalidade: é uma coisa que não se consegue explicar, até chegar lá e verificar que é mesmo gratificante. Não podemos chegar, e cortar caminho, para chegar à sensação boa. Há mesmo um sentimento único quando viajamos com os nossos filhos. Não há como não sentir, ou fingir. É mesmo difícil resumir isto num post de blog.
Estão a imaginar aquela noite que se levantaram 5 vezes, e viram o sol nascer? Lembram-se daquele cansaço? Para onde foi ele, no momento em que o bebé dá uma gargalhada no final da papa?… É isto.
Quando eramos solteiros gostávamos de viajar. Quando éramos só um casal, ainda era melhor. Mas agora, em família, ainda adoramos mais. Leva as viagens para outro nível. Um nível diferente, uma experiência diferente. Quando a nossa mente está em outro patamar, a mesma paisagem não nos parece igual, embora aquela montanha nunca tivesse mudado um único milímetro.
Há outra coisa que se adiciona à mudança: conhecemos um outro lado da vida local. Somos aceites de outra forma. Partilhamos com os locais, algo que os viajantes sozinhos não partilham. E até o mais carrancudo dos taxistas, vai baixar a guarda quando vê a nossa criança. Vai contar que também tem filhos, as idades, e o que fizeram nas férias passadas.
Acreditem em nós. Já viajámos das várias maneiras. Não há nada que se compare nas experiências, porque agora vão vivê-las ao sabor dos sentimentos do vosso filho. Aquele que é o melhor de vós.
Não vão atrás de preconceitos. Ideias de outras pessoas.
Vocês conseguem. Nós sabemos que conseguem.
Ninguém quer ser aquela pessoa que chega ao fim da vida, e deseja ter feito tudo ao contrário. Não vão chegar a um ponto em que o vosso filho já é independente, e ficam arrependidos de não ter feito algo especial e único com ele, quando podiam.
Há um tempo. Não vale a pena adiar, porque eles crescem.
Nós temos escolha. Queremos fazer coisas, e sonhamos com outras. Aprender Italiano ou a pintar, pode-se fazer com 25 ou 65, já viajar com os nossos filhos pequenos, é diferente, não dá para ficar preso a medos. É para ir, e é agora.
Começar agora, planear agora, ler sobre viagens com crianças agora, ficar horas a ver fotografias de lugares lindíssimos, planear uma subida a uma montanha, percorrer mercados cheios de cheiros e pessoas diferentes, e, ver-nos a nós próprios e os nossos filhos maravilhados com tudo.
E daqui a três anos ou trinta, estaremos a contar aquela aventura, como se fosse ontem, do dia em que cheios de sede comprámos uns cocôs a um senhor no Sri Lanka, ele fartou-se de falar e gesticular muito, e nem uma palavra em inglês. O senhor faz um ar deliciado, de quem sabe que apanhou a melhor fruta da árvore, coloca-se de joelhos entrega-a com as duas mãos. Tanta atenção naquele gesto. Colocámos os cocôs no cesto da bicicleta, demos meia volta de costas, e os macacos tinham-nos roubado, nem a palhinha deixaram!
Medos, preconceitos, altura ideal, idade ideal, lugar ideal: nada disso interessa. Aconteça o que que acontecer, nós pais, sabemos resolver. A qualquer hora voltamos para a nossa casa, o nosso porto de abrigo. Podemos sempre ir com medo, mas confiantes que é o melhor legado que podemos deixar aos nossos filhos. Ancorados à coragem que nos fez escolher o destino longínquo e comprar os voos, quando “precisávamos” mesmo de mudar as cores das paredes de casa.
Não deixem as desculpas travar os vossos sonhos de viajar.
Bons passeios!
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