O que se faz quando não se viaja? É uma pergunta que acabei por fazer a mim própria, quando o Mundo parou e as viagens ficaram resumidas a dois quartos, uma sala e um jardim (felizmente!). Olho para trás no tempo e vejo que, mais uma vez, na minha vida as escolhas meio incertas acabaram por se revelar mais certas do que nunca: afinal morar no meio da Natureza acabaria por afastar todos os “probleminhas” que se destacavam no nosso dia-a-dia, e que toneladas de folhas para apanhar podiam dar um belo passatempo.
Quando em 2010 assumi que as viagens tinham de ser uma prioridade na minha vida, todos os projectos pessoais e profissionais tinham outros países envolvidos. Então e agora que esta prioridade me escapou da mão? E agora que a imposição de um confinamento, é a única forma de nos protegermos?
Viajar com o COVID é solução?
A pandemia de coronavírus é a pior crise desde a Segunda Guerra Mundial, afecta brutalmente as vidas e a saúde humanas. E a resiliência humana é chamada à “cabine de som” como o principal medicamento para a ansiedade que isto tudo traz. Jogámos para trás das costas a falta de afecto, saudades e hábitos e aguardamos, qual Budha de Gandhara, sentadinhos à espera que tudo passe.
E para muitas pessoas não vai passar nunca.
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O nosso ano é planeado em redor das viagens. Umas a trabalho, outras para voluntariado e outras apenas para satisfazer este desejo de estar em lugares diferentes. É um constante tetris de calendário.
Nunca te cansas? Não.
Na realidade este lado intrépido existe em outras facetas da minha vida, e por incrível que pareça é muito estável esta instabilidade, porque exige muito planeamento e tempo para estar com os meus.
As duas semanas de confinamento, viraram dois meses de teletrabalho e este sprint de pandemia, virou maratona e nós cá estamos. Com sonhos, viagens e trabalhos adiados, não se sabe para quando.
Então o que se faz quando não se viaja?
Agora que estamos em modo desconfinar com juízo, dá para fazer muitas coisas, é preciso é imaginação. Felizmente vivemos num lugar privilegiado, em que maravilhas naturais não faltam, trilhos isolados e lugares pouco conhecidos. Arranjamos fins de semana que quase cheiram a férias, sonhamos com roteiros e acompanhamos as notícias sobre a evolução da pandemia como quem segue o boletim meteorológico: “Olha parece que vem o sol!! ahhh afinal enganaram-se são aguaceiros fortes…”.
Os vouchers que guardamos das viagens anuladas já viajaram por vários destinos e não aterraram em nenhum! Mas roteiros já temos vários.
A parte pior é que as viagens são um escape, são uma força motriz, são criatividade, são lufada de ar fresco na rotina, são aprendizagens, são memórias, são a vida a acontecer intensamente, são hábitos cheiros e pessoas.
E custa-nos muito estar sem esta parte da vida.
Resta-me esperar que tudo passe, que as famílias recuperem das perdas humanas, do desemprego e dos efeitos desta instabilidade. Sonho com o dia em que regresse a feliz normalidade de todos.
Enquanto isso não acontece, viajantes e mini-viajantes dêem pequenos passeios, façam planos (se não acontecerem, não faz mal!), tomem todos os cuidados, não ignorem as medidas de protecção e mantenham-se positivos. O que agora parece surreal, vai acabar por ser a normalidade, e num piscar de olhos estamos a perseguir promoções de voos outra vez.
Bons passeios!
Mãe Duarte