A primeira vez que ouvimos falar no Morro de São Paulo, não podíamos adivinhar que se tratava de uma vila piscatória numa ilha paradisíaca, que fica ao largo de Salvador da Bahia.
Esta vila está a 60km de Salvador, na Ilha de Tinharé e pertence ao município-arquipélago de Cairu. Este arquipélago engloba a a ilha com o mesmo nome: Cairu, a Ilha de Boipeba e outras 23 ilhas turquesa.
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Morro de São Paulo é uma vila no extremo norte da ilha de Tinharé. Acessível apenas por barco ou avião, a vila não tem ruas pavimentadas ou tráfego de carros. Há, no entanto, muitos hotéis, pousadas, restaurantes e duas caixas multibanco que fecham à noite.
As praias da ilha são denominadas Primeira, Segunda, Terceira e Quarta praia, conforme a proximidade em relação ao cais. Deliciosamente imaginativo, mas sem dúvida prático, especialmente se é a primeira vez que lá vão.
Como chegar ao Morro de São Paulo?
De avião
O Morro não tem um aeroporto, mas voos charter de Salvador demoram 20 minutos e aterram em duas pistas de relva, localizadas respectivamente na Terceira Praia e na Praia do Encanto (Quinta-Praia), uma zona já praticamente deserta.
De Barco
Existem diferentes maneiras de chegar a Morro de São Paulo a partir de Salvador:
- A maneira mais fácil é apanhar o ferry-boat (Balsa) ou o catamarã do Mercado Modelo, a cinco minutos a pé da extremidade inferior do Elevador Lacerda. Como ouvimos dizer que a viagem pode ser agitada, que muitas pessoas enjoam, e que em caso de agitação marítima, os catamarãs são mais estáveis e os últimos a cancelar as viagens, reservamos na Biotur. Os barcos são novos, têm WC e um vendedor de snacks e bebidas a bordo. A viagem demora 2 horas.
- Uma opção menos agitada é apanhar o ferry de Salvador até a ilha de Itaparica, de lá um autocarro para Valença, e de Valença outro ferry para o Morro de São Paulo. Esta alternativa é barata e suave, mas leva mais tempo (pelo menos quatro horas).
- Quando há mau tempo, todos os passageiros são direcionados para um autocarro que vai direto a Valença e daí apanham o ferry, já em águas muito calmas, para o Morro. Se não gostarem de barcos, podem fazer este percurso mesmo com bom tempo.
O que vão encontrar ao chegar ao Morro?
Os Carregadores
Quando o barco chega à ponte do cais do Morro de São Paulo, alguns homens entram para perguntar onde vamos ficar hospedados e oferecem ajuda para carregar a bagagem num carrinho de mão (já que não há outro meio de transporte na ilha). ACEITEM.
Se reservarem alojamento depois da Primeira praia, vão enfrentar várias subidas e descidas muito acentuadas de tirar o folêgo, mas se o alojamento for perto do Forte, só terão a subida para sair do cais de embarque, e se não tiverem muita bagagem, e a criança subir escadas sozinha, não é preciso ajuda.
Os “carregadores” como se chamam no Morro, são funcionários de quatro associações e conhecem tudo na ilha. Há imensos (cerca de 200) e fazem um trabalho muito pesado. Tentam rentabilizar a viagem recolhendo vários clientes, e fazendo várias paragens no caminho. Levam também as crianças no carrinho, pelo mesmo preço de uma mala (10R$ =2,30€), ou idosos com mobilidade reduzida por 15-20 R$. Não regateiem o valor, é claramente baixo, para o esforço físico que fazem, debaixo de sol a 40 graus.
O Morro é um destino muito difícil, ou mesmo impossível para pessoas em cadeira de rodas ou com dificuldade de locomoção. O uso do carrinho de criança, não é impraticável, mas há ladeiras bastante complicadas. Esta viagem e a de Jericoacoara, deixaram-nos com vontade de nunca mais levar o carrinho para as viagens. Um mini-viajante de 15 quilos já custa muito a empurrar em subidas íngremes.
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Pagamento da Taxa Turística (taxa de visitação)
Desde 01 de Novembro de 2017, os visitantes do Morro de São Paulo têm que pagar 15 R$ como taxa de visitação. É a TUPA, ou Tarifa por Uso do Património do Arquipélago.
Visitantes até 5 anos e acima de 60 anos estão isentos desta taxa.
A cobrança é feita no cais de desembarque na ilha, uma única vez por permanência. O recibo depois é conferido na viagem de regresso. Famílias com crianças têm prioridade na fila de pagamento, mas não é óbvio nem há um balcão especifico, é necessário pedir a um dos vários funcionários que organizam as filas.
Como se deslocarem no Morro?
Não são permitidos carros na ilha e não há estradas pavimentadas, portanto, a única maneira de se deslocarem por lá é a pé, na maioria das vezes descalços, pois vão passar muito tempo na praia.
Até recentemente, tratores para a recolha de lixo, transporte de materiais pesados, passeios para praias distantes, e de, e para, pousadas na Praia do Encanto, eram os únicos veículos motorizados permitidos. Hoje em dia, embora os veículos não sejam permitidos nas praias e estradas principais, há alguns táxis de buggy nas estradas que fazem o transporte paralelo às praias, passando por Zimbo, Campo da Mangaba e Gamboa.
Há também dois ou três autocarros, que parecem saídos de uma explosão, que transportam habitantes para o interior da ilha.
Compras
As lojas estão por toda a vila, mas a rua principal, após o caminho do cais dos barcos, e antes da primeira praia, é a zona mais comercial. Há muitas lojas de roupas que vendem principalmente t-shirts, chinelos, fatos de banho e muitas lembranças turísticas.
Se gostam de levar uma lembrança para casa, que não seja o cliché, no Morro existe uma marca de roupa que não existe em mais lado nenhum, e é mais barata. Espreitem a página da Local Brasil.
Comer e Beber
Há muitas opções gastronómicas espalhadas por toda a vila com comida local baiana, muitos italianos, venezuelanos e algumas mercearias.
A comida local mais barata é a carne. Os vários tipos de carne vêm sempre com batatas fritas, arroz, salada, feijão e mandioca. E o prato do dia custa mais ou menos 15 R$ (3,50€). Procurem pelos cartazes, ou Menu, a dizer PF (prato feito) ou Prato Executivo, ambos significam que há o prato do dia.
Pode ficar um pouco mais caro se optarem por coisas como mariscos ou moqueca de peixe, nos restaurantes de praia.
Fomos várias vezes ao Restaurante e Lanchonete Frigideira de Barro, na Rua da Biquinha. Não nos lembramos como lá chegámos, pois fica um bocadinho escondido. O dono, que é também o empregado de mesa, é muito simpático. O estabelecimento é pequeno e fica longe da multidão e do barulho da música que se ouve junto à praia.
Têm todas as comidas típicas brasileiras, e é tudo muito bom. Provem a bisteca (costoleta de porco), carne de sol, frango com fritas e as moquecas. Os acompanhamentos usuais de arroz, feijão, farofa e salada estão incluídos.
Quem passa pela vila dá de cara com muitas pessoas a vender doces no meio da rua: brigadeiros, beijinhos, cocadas, gelados e bolos caseiros.
As bebidas são variadas e muitas delas são servidas na própria fruta que faz de copo: cacau, abacaxi e o coco. “Capeta”, “Príncipe Maluco”, “Caipirinha” e “Cocktail de Frutas” são algumas das bebidas mais populares que têm como ingredientes as frutas da estação, vodka, aguardente e leite condensado. Podem pedir a versão infantil, que não inclui a bebida alcoólica, tem apenas sumo de fruta e leite condensado, caso não o dispensem logo no pedido.
Onde dormir?
Há alojamento para todas as carteiras no Morro. Desde resorts cheios de relva, palmeiras cuidadas, sombras, virados para o mar com atarefados funcionários de farda a percorrer as espreguiçadeiras de bandeja na mão, como alojamentos tipo Surf Camp ou Hostels.
A melhor zona para ficar, depende do que procuram. Se gostam de uma zona com mais gente, restaurantes à porta e lojas, o ideal é ficar na Primeira e Segunda Praia, na linha de costa. Se preferem menos gente e não se importam de andar 10 minutos a pé, a partir da Segunda Praia, na rua de trás ou qualquer zona na Terceira Praia ficam bem.
A Quarta Praia é mais isolada e para quem tem mini-viajantes, pode ficar um pouco longe. Perfeita para quem escolhe alojamento com refeições incluídas.
Escolhemos a Pousada Bahia Brasil. Tem um excelente pequeno-almoço, bastante variado. Os funcionários são muito simpáticos e os quartos pequenos mas limpos e cuidados. Nada a dizer. Relação qualidade-preço muito boa.
O que há para fazer no Morro?
Desacelerar. É o tipo de lugar que cativa qualquer pessoa logo à chegada. A sensação de lugar pequeno é muito reconfortante, quando o que se procura é descansar.
Para o tipo de pessoa que não gosta de entregar o corpo à preguiça, existem algumas atividades como surf, snorkeling, mergulho, passeios de barco, compras, e pouco mais.
Se gostam de praia, então este lugar vai deixar-vos muito consolados. A água é clara e incrivelmente quente. Ronda os 28 graus. Mais quente do que isto só no Médio Oriente. O miúdo não saía da água, aprendeu a fazer snorkeling, e não queria outra coisa. Podem escolher uma praia para cada dia, ou aproveitar várias no mesmo dia, pois no fundo é sempre a mesma extensão de areia.
Há uma tirolesa que desce da primeira colina do Morro até a água na Primeira Praia. Parece muito divertido, se não tiverem problemas com as alturas. Crianças só a partir dos 12 anos. O caminho até esta tirolesa é muito agradável entre a floresta, passando pelo farol e pelo miradouro. São muitas escadas, mas está sempre sombra das árvores, o que ajuda a refrescar.
Observar pores do sol. O pô-do-sol, é um “produto” muito vendido no Brasil, e não é ao acaso. No Morro toda a gente vai tentar levar-vos à “Toca do Morcego”, um bar empoleirado na encosta, na borda da floresta e tem vista para o canal principal que separa a Ilha de Tinharé do continente. Paga-se para entrar, e está cheio de pessoas.
Para observar o pôr-do-sol basta subir ao miradouro perto do Farol, ou apenas deixar-se ficar onde estão e esperar que o céu fique todo cor-de-laranja.
Depois do sol desaparecer, o Morro ganha uma nova vida. Muita gente a circular, restaurantes ao ar livre, animados bares, e uma série de barracas de bebidas em fila que se instalam ao longo da passadeira da Segunda Praia. As famílias começam a desaparecer e grupos animados e bem vestidos, começam a ocupar os restaurantes de tochas acesas na praia.
Bons passeios!
Se vão para o Brasil, não podemos deixar de referir o repelente como um item essencial. Não é qualquer repelente que afasta estes mosquitos tropicais muito habituados a turistas mais ou menos prevenidos com repelentes suaves. Muito importante, especialmente nas zonas com muita vegetação.
Outra coisa a não dispensar é o seguro de viagem. Em ilhas de acesso mais ou menos remoto ou demorado, devemos ter a certeza que podemos ser evacuados rapidamente a qualquer hora do dia, caso alguma coisa aconteça. Que pode ser só um pé partido, que não acontece só aos outros!
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